A alta da inflação, que em janeiro atingiu o maior nível em quase
oito anos, pode mudar os rumos da política econômica no governo da
presidenta Dilma Rousseff, marcada até agora pela queda dos juros.
Segundo especialistas, caso os preços continuem aumentando acima do
esperado, o Banco Central (BC) voltará a reajustar os juros básicos,
atualmente no menor nível da história.
No mês passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) subiu 0,86%, a maior variação mensal desde abril de 2005, quando a
alta tinha somado 0,87%. Dezembro, no entanto, também tinha registrado
inflação expressiva, de 0,79%. Com o resultado de janeiro, o IPCA
acumulado em 12 meses passou para 6,15%, contra inflação de 5,84%
registrada em todo o ano passado.
Desde outubro do ano passado, a taxa Selic (que determina os juros
básicos da economia) está em 7,25% ao ano. Até agora, as instituições
financeiras acreditavam que a taxa Selic chegaria ao fim do ano no nível
atual, segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal com analistas de
mercado divulgada pelo Banco Central. Para os especialistas, o
comportamento da inflação nos próximos meses determinará a necessidade
de o BC aumentar os juros antes do esperado.
O que diverge os economistas é o risco de a inflação fugir do
controle. Para Newton Rosa, economista-chefe do Banco Sulamérica
Investimentos, o IPCA de janeiro foi bastante influenciado por reajustes
típicos de início de ano. “Sem dúvida, o resultado do mês passado
aumentou o risco de o Banco Central ser obrigado a rever a política
monetária, mas acredito que a pressão sobre os preços deve arrefecer a
partir do segundo trimestre, e a inflação oficial deve fechar o ano
entre 5,5% e 6%, na faixa prevista pelo governo”, diz.
O professor de economia Fábio Gallo, da Fundação Getulio Vargas
(FGV), no entanto, acredita que a inflação já está fora de controle. “O
próprio IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] mostra
que, em janeiro, houve aumento em 75% dos itens pesquisados. Isso mostra
que a inflação está bastante disseminada na economia”, critica.
Para Gallo, a interrupção da trajetória de queda da taxa Selic é
inevitável. “Os juros são o remédio mais rápido para conter a inflação, e
o governo não terá como escapar”, avalia. Segundo ele, a inflação atual
reflete erros da política econômica “Em vez de conter os gastos
públicos, o governo concedeu reduções paliativas de impostos para
estimular a economia. Isso impulsionou o consumo, e a população hoje
está disposta a pagar mais porque tem mais dinheiro”, explica.
Newton Rosa não descarta a possibilidade de aumento de juros, mas
acredita que o governo antes tentará outros instrumentos para conter a
inflação. “A redução das tarifas de energia e a possível isenção de
impostos da cesta básica ajudarão a inflação a cair nos próximos meses. O
governo tem usado outras medidas para conter a inflação, como permitir a
queda do dólar para menos de R$ 2”, ressalta.
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